27 de jan. de 2010

O estudante profissional em crise



A competitividade, as cobranças diárias por resultados, as metas, os desafios, o individualismo, a convivência no coletivo, o corporativismo, o colaborativo e muitas outras peças do ambiente comercial e produtivo de uma empresa fazem com que os principais protagonistas destes departamentos sofram uma espécie transformação psicológica, fazendo do ambiente de trabalho um “reality show”.
O Aprendiz, Big Brother, No Limite e A Casa dos Artistas. Mesmo não tendo assistido a estes programas, você leitor e sobrevivente desta moderna e igualmente perigosa selva, os escritórios, saberá identificar cada passo que virá a seguir, acompanhe:
Tudo começa no recrutamento. Qualquer cidadão que passa por uma entrevista pessoal ou até mesmo uma dinâmica em grupo sofre da síndrome de “O Aprendiz”, ou seja, ele sente a necessidade extrema de mostrar que é profundo conhecedor de algo específico, que está super preparado até mesmo para assumir o mais alto cargo da empresa, que é o melhor naquilo que faz, que possui um vasto vocabulário e que é um líder nato.
No fim das contas esse super candidato acaba dispensado e volta para casa com a sensação de que a empresa em questão só pode estar errada, afinal, ele segue o que o programa e a vida acadêmica passam e que é a enorme verdade para ele e milhões de brasileiros. Prepare-se sempre.
Alguns vivem se preparando e nunca ficam prontos, outros só acreditam que devam ingressar no mercado de trabalho após concluírem seus 3 cursos de graduação, 5 pós-graduações, 10 especializações, reciclagens, etc. Ou seja, são estudantes profissionais. Ficam velhos e inexperientes para assumirem qualquer função no mundo corporativo e acabam ocupando cadeiras de docentes em instituições de ensino particulares, isso na melhor e mais digna das hipóteses.
Para as instituições é um ótimo negócio. Mão de obra farta e qualificada, salas de aulas cheias, cursos e mais cursos para comercializarem.
Não sou um ignorante completo que considera a formação acadêmica uma bobagem. Pelo contrário, conheço inúmeros casos de que “estar preparado, na hora certa e no lugar certo” transformaram pessoas quase que comuns em profissionais de enorme sucesso. É fato que estudar, se especializar e se reciclar é a chave para muitos empregos, cargos e pessoas.
Mas não dá para atribuir o sucesso ou o fracasso profissional de alguém pelo quanto este estudou tradicionalmente em uma sala de aula. Definitivamente não dá.
Só se preparar não lhe garantirá nada. Não é garantia do seu ingresso para o seleto grupo dos “bem colocados” e “bem sucedidos”.
Você pode perguntar: “Mas então o que se deve fazer?”.
Desenvolva o seu lado humano, saiba trabalhar em equipe, administre seus problemas, quando necessário tenha iniciativa e liderança, seja ágil e flexível. Saiba resolver “suas buchas” e até alguns algumas dos outros, sejam elas pessoais ou profissionais. Essas coisas não te ensinam num curso tradicional.
Várias instituições incluem disciplinas relacionadas aos relacionamentos humanos em suas grades, mas não fazem isso da maneira correta. Acabam por estimular a competição ferrenha e no melhor estilo “Mad Max”, onde a sua sobrevivência e sucesso está diretamente ligado ao fracasso do outro.
Ser disposto, humano e atuante e é o que mais ajuda os profissionais nos dias de hoje.
Pense bem, um bom bate papo com pessoas variadas e até mesmo leituras de livros que contam casos reais fazem com que você aprenda muito mais sobre qualquer coisa, não é mesmo?
Todo mundo é autodidata, basta praticar. Comece pelos temas que você gosta. Agora!
Se bem que talvez já esteja fazendo isso, lendo esse blog.
Mas há uma tendência bem animadora, o mercado do estudo profissional está em crise. A maioria das faculdades e universidades pararam de expandir suas unidades e a quantidade dos cursos como fizeram entre os anos de 1990 e 2008, e passaram a investir em qualidade em 2009 e 2010.
Ufa! Talvez estejamos salvos.

Repararam que as universidades e faculdades:
- Até 1990, vendiam sua história e credibilidade (com tradicionalismo);
- De 1991 até 1998, vendiam variedade (com vários cursos de graduação);
- De 1999 até 2001, vendiam localização e acesso (com expansão dos campus e 2 vestibulares por ano);
- De 2002 até 2005, vendiam estrutura (com o apelo de ser a mais moderna e completa);
- De 2006 até 2007, vendiam baixo custo (com o apelo de cursos extensivos, semi-presenciais, de baixo custo, bolsas etc);
- De 2008 até 2009, venderam especializações (com farta oferta de pós-graduações);
- A partir de 2009, vendem qualidade no ensino (melhores professores, parceria internacionais etc).

O que ocorrerá com esse mercado no futuro?

3 comentários:

Raquel R S disse...

Eu resolvi deixar o mundo corporativo e me dedicar à vida acadêmica. Aí sim, minha profissão será só estudar e ministrar aulas... rsrsrs

Sempre gostei de estudar, estou na minha segunda graduação e já vislumbro uma terceira e quarta, além de mestrados, doutorados e pós-doutorados. Mas não suportava as cobranças quando trabalhava em multinacionais, para que fizesse pós-graduações e cursos de especializações. Por que? Porque você simplesmente não aplica praticamente NADA do que aprende nas universidades em uma empresa. Mal o seu inglês e espanhol vc usa, o que dirá conhecimentos universitários!!!

Acho que as empresas também devem parar de exigir uma série de qualificações e certificações do profissional, que no final, não será utilizado. Isso também leva os profissionais ao sentimento de frustração.

Ótimo texto!

Danilo disse...

Concordo contigo, muitas empresas exigem idiomas, graduações e pós-graduações de um simples estagiário que picotará papel por 3 meses e será dispensado.
Mas um ponto esqueci de comentar no meu texto, a super-formação como opção (o seu caso).
Quer saber, o melhor mesmo é botar seu lado empreendedor para fora e montar o seu próprio negócio.
Obrigado Raquel...e continue lendo essas bobagens que publico aqui.

Raquel R S disse...

A pesquisa acadêmica também é necessária, e aqui no Brasil, é uma coisa que ainda tem muito para ser explorado e incentivado.

Por exemplo, a área do Direito está super defasada em vários aspectos. Enquanto formamos 'adêvogados' e nossos legisladores aprovam leis defasadas, a pesquisa na área do Direito traria adequações e atenderia as reais necessidades da sociedade na área. Mas, para isso, precisamos de pesquisadores, e aqui no Brasil, essa é uma prática muito pouco incentivada.

Penso em uma 'super formação' não pelos títulos, mas pelo conhecimento adquirido. Sou mais da linha do 'ser disposto, humano e atuante', mas nessa área de pesquisa, que envolve o bate papo com pessoas variadas e a leitura de (muitos) livros.

Acho que não te contei, larguei o mundo empresarial no final de maio, joguei tudo pra cima e agora sou pesquisadora científica, voluntária, editora e tradutora de notícias, um monte de coisa que no momento ainda não me trazem muito dinheiro, mas me trazem paz de espírito e realização, e isso não tem preço... rs

Continue escrevendo, seus textos são realmente muito bons! E vamos marcar algum dia pra vc e a senhora sua esposa virem aqui em casa (de verdade hein!).